Arqueologia da cognição... (Apresentação)

 “Arqueologia da Cognição: interesse e potencialidades na abordagem à Neolitização peninsular”

por António Carlos Valera

A abordagem da Arqueologia às questões da mente só foi disciplinarmente formalizada a partir dos anos oitenta do século XX. É certo que desde tempos mais recuados que a Arqueologia e sobretudo a Antropologia se permitiam discursar sobre aspectos da psicologia dos povos e das mentes dos “Homens Primitivos”. Esses discursos, contudo, não se sustentavam numa linguagem formalizada e numa investigação sólida sobre os processos cognitivos humanos. O desenvolvimento das ciências cognitivas a partir dos anos cinquenta e os avanços realizados na paleoantropologia no que respeita aos processos de hominização viriam a ser responsáveis pelo desencadear, no último quarto de século, do interesse por uma Arqueologia Cognitiva. Esta, contudo, tem ficado muito vinculada aos estudos de Pré-História Antiga, sendo pouco trabalhada no âmbito da Pré-História Recente.Nesta comunicação, para além de se procurar fazer uma breve resenha do que tem sido a relação da Arqueologia com os problemas da cognição, (ou seja, com a forma como em cada contexto histórico esses processos cognitivos actuam na maneira como o Homem entende o mundo), procura-se também sublinhar a importância desta temática para abordar as questões do sentido e, portanto, da intepretação nesta área disciplinar. Para tal, será utilizada a temática em torno dos processos de neolitização, procurando evidenciar como esta profunda dinâmica de mudança nas comunidades peninsulares dificilmente poderá ser compreendida se deixarmos de lado a componente mental e o seu carácter estruturante do comportamento humano. Correspondendo a uma profunda transformação no modo como o homem vê e se organiza no mundo, a neolitização não pode ter ocorrido sem ter sido simultaneamente causa e efeito de profundas transformações nas estruturas mentais humanas. Talvez mais que que qualquer outra coisa, a dita “Revolução Neolítica” terá sido uma Revolução Ontológica.

 

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